Conto de Fadas: além das histórias
- Pópidi
- 14 de jul. de 2023
- 6 min de leitura
Atualizado: 1 de jul. de 2024
Por Giovanna Araujo | 14 de julho de 2023 Fábulas e contos sempre têm uma moral no final, porém você já parou para analisar quais aspectos, na vida da criança, essas histórias representam?! Hoje mostraremos um lado mais profundo, que eu tenho certeza que você não conhecia, sobre esses clássicos da literatura infantil.

Um incentivo super válido para a imaginação que ajuda no desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos pequenos, os contos precisam fazer parte da infância. Com esse estímulo, a criança consegue exercitar seu senso crítico, entre o "bem e o mal" e aplicar isso em sua vida, trabalhar a identidade por meio de identificação de personagens e a personalidade ao demonstrar sua própria opinião em relação a acontecimentos na história. Além disso, as crianças utilizam os contos muitas vezes como fórmula de escape, pois mesmo que haja uma jornada extremamente difícil, é possível encontrar maneiras para viver um final feliz.
Confira abaixo cinco exemplos de contos clássicos com uma análise mais aprofundada na moral passada e o seu possível significado de interpretação:
O PATINHO FEIO

A história gira em torno de um protagonista (patinho) rejeitado pela sua família, por ser considerado muito diferente e sem muita beleza. Ele foge de casa, partindo em busca de um lugar onde possa se sentir amado, confortável e seguro, mas após muita procura, acaba percebendo que nenhum dos locais por onde passou e nenhuma das pessoas que conheceu, o fez sentir dessa maneira. O tempo passa e já adulto, volta a um lago conhecido, cisnes que habitavam aquele local, o cumprimentam e puxam conversa, o patinho estranha e ao olhar para o seu reflexo, percebe que se tornou um belo cisne, achando então assim o seu lugar no mundo e também a sua personalidade. Colocando em pauta a diversidade, provoca uma reflexão nas crianças que se identificam tanto com o patinho, quanto com aqueles que não o aceitam, mostrando a importância do respeito com as diferenças do próximo, já que uma resposta violenta e de rejeição, pode causar diversos impactos na vida alheia. Essa rejeição, por sua vez, não diz respeito apenas aos outros, mas também a algo em si difícil de ser aceito ou entendido. Compreender às expectativas não correspondidas, é essencial para o encontro da própria identidade, ao assumir limites e entender suas imperfeições, surge um espaço para uma resolução mais criativa de um dos maiores problemas encontrados na infância: saber qual lugar no mundo pertencemos.
OS TRÊS PORQUINHOS

Conta a história de três irmãos porquinhos que decidem sair da casa de sua mãe para morarem sozinhos, construindo então a sua própria. O primeiro, mais preguiçoso, utiliza apenas palha na construção, já o do meio usa madeira e o mais velho, tijolos. Um tempo após essa mudança, um lobo aparece para atrapalhar a vida boa dos porquinhos, ameaçando-os e destruindo a casa dos dois primeiros irmãos, que para escapar, correm pedindo ajuda a seu irmão mais velho. Por estarem em uma construção resistente, eles escapam ilesos e derrotam o lobo.
A ideia da construção pode ser ligada a formação da personalidade dos pequenos e a percepção de si como um "lar aconchegante". Parece fácil, mas até chegar nesse objetivo, a criança passa por várias situações que, de forma simbólica, lembram as etapas da construção de uma casa. Em resumo, cada um usará os materiais cedidos, de forma natural, e assim, construirão a sua própria história. O lobo aparece como a angústia dos pequenos por aquilo que "vem de fora", desestabilizando sua personalidade ainda em desenvolvimento, por isso, é extremamente importante que as "paredes" dessa casa estejam bem fortes e os proteja do sopro do lobo mau, ou seja, de pensamentos internos corrosivos e experiências externas que venham dificultar nesse processo de autoconhecimento.
A PRINCESA E O SAPO

Quando derruba sua bola colorida em um poço e não consegue pegar, a princesa fica muito triste. Ouvindo suas lamúrias de longe, um sapo faz uma proposta para ajudá,-la: ele recuperaria a bola, porém a princesa deveria deixá-lo entrar em seu castelo, deitar em sua cama e comer em seu prato. Ela detesta a ideia, porém desesperada por sua bola preciosa, ela aceita o acordo, já em mente que, após recuperar o que queria, não cumprirá sua parte do combinado. Para sua tristeza, seu pai fica sabendo da ideia e à obriga a manter sua palavra. No dia seguinte, ao acordar, se depara com um belo príncipe, que até então, era um sapo na noite anterior.
A principal metáfora para esse conto é que o sapo, na verdade, é uma questão externa do mundo, que obriga a princesa a renunciar às suas vontades para cumprir acordos. Sendo algo fundamental na aprendizagem, a compreensão de que, para um melhor convívio em sociedade, às vezes nem tudo sairá do jeito que os pequenos querem. Mostra também que, quando você faz coisas boas, é retribuído de alguma forma.
JOÃO E MARIA

Quando dois irmãos muito pobres descobrem que serão abandonados na floresta por seus pais (que não tem mais condições de alimentá-los), um deles elabora um plano: deixar migalhas de pão espalhadas pelo chão para marcar o caminho de volta para a casa. Porém, o plano dá errado, eles se perdem na floresta e pouco tempo depois, encontram uma casa feita de doces. Famintos, logo começam a comer pedacinhos da casa, sem saber que dentro dela habitava uma bruxa.
É possível identificar diversas fases que uma criança passa durante seu crescimento, a primeira bem visível e impactante é a do "sentir-se abandonado" pelos pais. Isso ocorre quando a criança percebe que os responsáveis também falham e não são tão perfeitos como imaginavam.
Essa descoberta repentina assusta, já que é o primeiro passo para a independência, mas, ao mesmo tempo, também motiva a criança a procurar, por conta própria, soluções que supram os seus desejos.
A casa de doces é utilizada como uma metáfora de que, nesse caminho para ser livre e resolver as questões pessoais sozinhos, os prazeres do mundo parecem vitalícios, sem limite algum. Porém, como na história, após essa falsa ilusão, as crianças são aprisionadas pela bruxa, o que na vida real se assemelha ao pagamento do preço da precipitação, as famosas frustrações.
CACHINHOS DOURADOS E OS TRÊS URSOS

Conta a história de uma pequena garotinha de cachinhos dourados que após se perder na floresta, encontra uma casa linda, ali aproveita para comer e descansar, sem se preocupar com a bagunça feita, muito menos em como os moradores da casa reagiriam com a sua chegada inesperada. Quem habitava aquela casinha, eram 3 ursos e após a volta de seu passeio, se assustaram com o estado em que haviam encontrado a casa, já que não esperavam visita naquele dia. Após a descoberta da "pequena intrusa", Mamãe Ursa dá uma bronca bem dada na menina, sobre como é perigoso andar sozinha pela floresta e que não se deve mexer nas coisas de outras pessoas sem autorização, mesmo estando brava, ela se solidariza e à ajuda no caminho de volta para a sua casa.
É possível fazer relação com a questão da descoberta da própria identidade, as crianças, mesmo sem querer, buscam diversos estímulos do dia a dia e de pessoas do convívio, para ajudar nessa construção de si. Quando a menina adentra a casa dos ursos e experimenta o mingau de cada prato, escolhe qual cama e cadeira prefere para descansar, fica subentendido que é uma representação dos pequenos tentando achar o seu local na família e desenvolvendo os próprios gostos.
Entender e encontrar o próprio lugar no mundo é extremamente complicado, principalmente para
quem está conhecendo tudo isso agora e não tem base nenhuma. Quando a criança encara esses novos desafios em sua jornada, mostra o seu amadurecimento, entendendo que é necessário enfrentar o crescimento, mesmo que para isso, seja preciso sair da zona de conforto.
E então, já havia parado para pensar por esse lado sobre os contos infantis super marcantes? Pois é, muita coisa pode ser enxergada além dos olhos, com uma certa forma de interpretação podemos achar diversos significados para uma só história 😉🧡
(Esse texto foi produzido com base no livro FADAS NO DIVÃ- PSICANALISE NAS HISTÓRIAS INFANTIS de Diana Liechtenstein e Mário Corso e na publicação Os contos de fada e o crescimento emocional das Crianças feita pelo Laboratório da Educação.)
A Pópidi reforça o compromisso de levar conteúdos e pautas relevantes sobre o universo infantil para toda a família, buscando ser uma marca presente em todas as etapas da vida da criança.
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